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Exame Toxicológico é vendido ilegalmente por R$ 1.000 em autoescolas de São Paulo


Em novembro do ano passado, o motorista de ônibus Miguel Luiz Pereira recebeu um pedido da empresa pra que ele mudasse a CNH da categoria D para a E, que permite dirigir coletivos biarticulados.

Miguel procurou o laboratório de coleta Laborfase em Diadema, na Grande São Paulo, e fez o exame toxicológico do cabelo, que detecta se houve uso de drogas até 90 dias antes.

Dois meses depois do teste, veio a surpresa: o exame falhou e precisaria ser refeito. O problema é que o cabelo do Miguel não tinha os quatro centímetros exigidos para o teste e ele teria de esperar mais dois meses pra refazer o antidoping.
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Preocupado, ele procurou uma autoescola no Jardim Promissão, também em Diadema, que fez uma proposta: R$ 1.300 para vender um resultado negativo do teste, ou no jargão, pra quebrar o antidoping. Miguel não aceitou:

“Deslavadamente, assim, de forma acintosa, até, descaradamente. Uma coisa que era para melhorar e virou uma forma de ganhar dinheiro. Quem usa drogas, continua usando, e os bons motoristas, como eu, que não uso drogas e quero fazer a coisa toda direito, é que estão pagando pela burocracia.”

O caso de Miguel mostra que as autoescolas, em parceria com os laboratórios, já encontraram um esquema para burlar a nova lei, que em São Paulo começou a valer em julho passado.

Quem for reprovado no exame, não consegue renovar a CNH, nem mudar de categoria. Ainda leva uma suspensão de 90 dias e precisa refazer o teste.

Sem saber que estavam sendo gravadas, duas funcionárias da Autoescola Lions 4, em Diadema, contaram como funciona o esquema. O exame feito de maneira legal custa R$ 300. Para quebrar o teste, o valor sobe para R$ 1.000 reais. O cliente só precisa levar uma cópia da CNH e do RG na autoescola e nem precisa ir até o laboratório. O sistema biométrico também é fraudado.

“– O toxicológico para o senhor fazer é R$ 298 reais. Pra quebrar essa exame é R$ 1.000 reais.Os R$ 1.000 do toxicológico já teria que dar uma entrada de início porque é o primeiro passo.

– Mas é garantido?

– É garantido.

– Eu não vou ter problema?

– Não tem problema. Pode ficar tranquilo.

– Esse aqui não diminiui o valor?

– Não tem como diminuir porque é o valor que eles estão cobrando lá (no laboratório)”

Até a baliza dos caminhões pode ser comprada. O motorista não precisa nem entrar na carreta no dia da prova.

“– O senhor vai fazer baliza ‘na raça’ ou vai querer comprar também?

– Dá para que quebrar?

– Dá pra quebrar.

– Você vai gastar R$ 1500 com a baliza contratada. Sem a baliza

– Porque aí o senhor nem entra na carreta. Só assina a ficha.”

Na autoescola Free, no centro de Diadema, o toxicológico não estava sendo vendido, já as CNHs de moto e carro…

“A de moto tá R$ 680 normal, com 15 aulas, e R$ 1.500 com a contratação. Garantir 100% não dá mais, a gente não põe a garantia de 100%, porque qualquer erro eles podem reprovar.”

Em outras duas autoescolas da Zona Sul de São Paulo, os funcionários disseram que a venda do exame teria de ser tratada pessoalmente com o gerente da unidade.

São comuns os relatos de caminhoneiros e motoristas sobre a venda ilegal de exames. E o esquema já chegou a outros estados. A reportagem apurou que uma ou até duas vezes por semana sai da cidade de Camanducaia, no sul de Minas Gerais, uma van lotada com motoristas para comprar CNH ou exames na Grande São Paulo.

O vice-presidente do Sindicato das Autoescolas de São Paulo, Magnelson Carlos de Souza, repudiou o esquema.

“Infelizmente não me surpreende porque isso é um problema, realmente. O sindicato não tem conhecimento (do esquema), repudiamos com veemência essa prática, e se for constatada, que seja encaminhada ao Detran para apurar.”

Outro lado

A reportagem telefonou para as duas autoescolas citadas e deixou os telefones para contato. Os representantes dos estabelecimentos não retornaram as ligações. O laboratório Laborfase, também citado na reportagem, não foi localizado.

A Abratox, que representa os laboratórios que fazem o exame do cabelo, pretende implantar a identificação biométrica nos exames para combater as fraudes.

Fonte: Blog do Caminhoneiro com Rádio CBN
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